Eu nunca vou esquecer daquele dia. 20 de Abril de 2006, tinha tudo para ser um dia perfeito, mas já havia começado ruim e terminaria pior ainda. Eu estava voltando da casa de uma amiga onde tinha passado a tarde junto com meu (ex) namorado, precisava correr pois tinha que tomar banho e jantar rápido pra poder pegar o ônibus do cursinho, que eu tinha que fazer em outra cidade porque a minha é pequena e não tem cursinho. Entrei pela porta dos fundos que é a entrada mais rápida para o lugar mais interessante da casa, a cozinha. Ultrapassei a pequena área de serviço e parei na porta da cozinha onde vi minha mãe sentada na cadeira de madeira e meu pai rodando feito um louco dando voltas na mesa, pela cara com que olharam pra mim deu pra perceber que algo estava realmente errado ali, mal sabia eu o que viria à acontecer. Minha mãe abriu a boca e com uma voz rouca de quem tinha passado o dia inteiro chorando falou:
- Arthur, você quer me matar? - Sim, algo estava realmente muito errado, nunca tinha ouvido minha mãe me chamar de Arthur, ela sempre me chamava por um apelido que a família tinha me colocado.
- Por que, mainha? - Falei enquanto ainda estava parado na porta.
- Eu não vou aceitar isso, de jeito nenhum, não te criei pra isso - Meu pai estava gritando desesperado, pela primeira vez o vi chorar e isso estava me dando muito medo.
- Mas o que foi que aconteceu?
- Sabe o que estão falando de você? - Minha mãe engoliu o choro e tentou implantar um diálogo entre nós.
- Não, não sei - Eu nunca estive tão confuso na minha vida.
- Se você quiser isso vá embora daqui, eu não vou aceitar isso dentro da minha casa - Meu pai continuava gritando.
- Estão falando que você está tendo um caso com um tal de César
Meu mundo caiu, eu senti todo o meu sangue fugir das mãos, do rosto, meu coração latejava dentro do peito e eu não sabia o que dizer.
- Isso é verdade? - Minha mãe finalmente olhou nos seus olhos.
Eu não sabia o que fazer, eu estava em estado de choque.
- É sim, mas estou namorando com ele.
Se eu pudesse, essas seriam as únicas palavras que eu nunca iria pronunciar em toda minha vida, pelo menos não naquele momento, que com certeza mudaria toda minha vida. Minha mãe baixou a cabeça e começou a chorar e a soluçar, meu pai esbravejava mas eu nem te dava mais atenção, a imagem da minha mãe ali tão frágil não conseguia escapar a meus olhos.
- Junte suas coisas e vá embra dessa casa, eu não vou aceitar isso aqui, não tenho filho viado - Meu pai continuava gritando, esquecendo de que tinhamos vizinhos e que, se eles não sabiam, acabaram de descobrir que eu era gay.
Parei por uns minutos, vi minha mãe ali balançando o corpo na cadeira de madeira e chorando, não olhava mais pra mim e meu pai continuava andando de um lado para o outro da cozinha. Calado, fui até o quarto e só peguei uma camiseta de mangas longas, afinal de contas na rua fazia muito frio. Ainda calado dei uma última olhada para minha mãe que continuava na mesma possição, só que agora estava com as mãos juntas como se estivesse rezando. Fui embora, só não sabia pra onde estava indo, eram apenas seis horas da noite e eu tinha uma longa noite pela frente, resolvi caminhar, atravassei a cidade inúmeras vezes, pensando no que eu tinha feito se teria sido a melhor saída ou não e pensando também na minha mãe, me senti a pior pessoa pessoa do mundo. Fui passando em frente a igreja e o toque das onze horas do relógio me fez voltar dos sonhos que estava tento acordado, na verdade eram pesadelos. A essa hora em cidade do interior é muito dificil se achar alguém nas ruas, sentei na calçada ao lado da igreja e rezei, nem sei porque fiz isso, mas achei que fosse necessário já que estava invadindo os arredores da casa de Deus e como eu pensava, um gay não poderia ser filho de Deus, então eu realmente teria que rezar. Quando percebi já era mais de uma hora da madrugada e estava fazendo muito frio, a camisa de mangas compridas não estava fazendo efeito, resolvi ir para a casa da minha avó que ficava ali perto, mas não tive coragem de acordá-la, então sentei na calçada e fiquei ali até amanhecer, essa foi realmente a noite mais longa da minha vida. Pela manhã minha avó abriu a porta e viu que eu estava ali, desesperada me agarrou pelo braço e me levou pra casa, eu não queria entrar, não queria ver minha mãe daquele jeito, vegetativo, de novo, mas entrei, e na cozinha eu a vi, pela profundidade dos seus olhos dava pra perceber que também não tinha dormido e chorado a noite inteira, eu não esperava que ela fosse falar alguma coisa, mas falou:
- Essa ainda é sua casa, e é aqui que você vai ficar até ter condições de ter a sua própria, agora sente-se na mesa que eu vou preparar alguma coisa pra você comer.
Não entendi nada, mas estava faminto e com muito sono, nem cheguei a comer o que ela estava preparando pra mim, adormeci ali mesmo, e desde esse dia minha vida não foi mais a mesma.
sábado, 19 de julho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
quando eu parar de chorar
eu comento direito tá?
NOSSA!!! que barra amigo, to aqui chocado pelo que acabei de ler. abracos
Nossa, isso ainda não aconteceu aqui, e espero que não aconteça desse jeito.
Ainda não sinto necessidade de contar, espero que não descubram de outra forma.
Abraço.
Sei como é isso...não de uma de "drama queen" bola pra frente, faça tua vida e a viva com muita garra.
eita filhote...
lembro qnd vc contou pra mim..
mas eh assim..nem sempre eh facil..
eu nao passei por isso ...
mas meu ex foi praticamente isso..e eu senti por esta com ele...
na minha casa foi mais tranquilo..
bjao filhote amo-te
Postar um comentário